Não há coração que não entenda. Não há mente que não
abarque. Simone de Beauvoir, filósofa francesa, feminista precursora, escreveu
que a liberdade é mais farta quando não é só nossa. “Querer-se livre é também
querer livres os outros”. É dela também o slogan da revista Vestida: “não se nasce mulher: torna-se!”.
E por que Vestida? E por quê o slogan? Bom, complementam-se. Sabemos
que nós, somos “vestidas” por essa armadura florida que é o ser mulher. Sim, e
quem nos veste é a sociedade, a cultura, a história, a delimitação de sexo, de
gênero. Há quem se desnude. Resistência. Por isso não nascemos mulheres, nos
vestimos, ou, como ela coloca, nos tornamos. E ai é que a liberdade entra.
Entender esse processo é preciso. Compreender que existem
séculos de machismo é imprescindível. Além de necessário saber que,
infelizmente, o machismo ainda existe, e passa despercebido. Seja nos
feminicídios – sim, de 1980 a 2010, 91 mil mulheres foram assassinadas, segundo
o Instituto Sangari -, seja nas piadinhas que rotulam e nos diminuem. Vestida é uma revista feminina e
feminista, tendo em vista, que não só as mulheres que se reivindicam feministas
são seu público. São seu público, mulheres, em toda sua multiplicidade. Mulheres
trabalhadoras e jovens que se veem diante desse sistema econômico – o capitalismo
- que explora, paga pouco, individualiza, coisifica.
Feministas não odeiam homens, não são feias – o que é ser
feia? -, não são só lésbicas – são também lésbicas -, não querem ser homens.
Feministas são mulheres, que um belo dia, tomaram consciência que temos uma
história de opressão. Feministas não querem pisar no sexo oposto. Essas que
querem são femistas, entenda bem, femistas. Feministas querem igualdade de
gênero dentro da diversidade. Por isso, a revista traz matérias que procuram
refletir acerca dessa opressão no cotidiano feminino, se opondo ao sexismo,
valorizando a liberdade.
Nessa edição zero, a publicação traz uma entrevista com a
ex-prefeita de Fortaleza, Maria Luiza, que conta sobre como é ser mulher e
política. Traz uma reportagem sobre o machismo virtual, que se indaga sobre a
reprodução de velhos valores nas novas mídias. Têm ainda o texto que problematiza
a liberdade sexual feminina, em suas diferentes nuances. A matéria principal se
questiona sobre o lugar da beleza, complementada por uma galeria de fotos de
belas moças, que por algum motivo, não se encaixam nesses padrões estéticos homogeneizadores.
Fechando a edição, uma matéria reflexiva, que nos leva ás histórias de seis
mulheres.
“Fico particularmente feliz quando encontro uma jovem
bonita, dizendo-se feminista. Dançando, rindo e dizendo-se feminista, como
acontecia naqueles anos 70”, lembra Michelle Perrot, historiadora francesa. Eu
também fico. Essa é uma das motivações de Vestida, desmistificar o feminismo
para mais, para muitas. Se não conseguir, já ficarei feliz pelo aprendizado ao
ter tentado.
Confira a versão digital... ^ ^
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